Diário de bordo
Angola
São Paulo,
Julho de 2013.
O avião acabou de
decolar! Eu não consigo acreditar que estou aqui. Deus me trouxe a memória
diversas promessas que estão se cumprindo agora, promessas de anos atrás. Isso
tudo está sendo incrível porque ao mesmo tempo que tem às novidades de voar pela primeira vez, tem as saudades que já começam a borbulhar, o som da voz
do Espírito, a ansiedade para o que viverei em Angola, mas sabe, não estou com
medo nem do avião, nem da saudade (que dói, mas não mata), e muito menos do que
viverei lá, esta certeza de estar no centro da vontade de Deus é boa, perfeita
e agradável. São muitas novidades, amizades, experiências, mas em tudo eu não
estou experimentando o medo, de nada, por sinal, nem da sensação de
identificar, no mapa do computador anexo na poltrona a frente, que já estou
voando acima do oceano, Aleluia!
Se tenho algo a
dizer? Sim: confie no Senhor, porque Ele é fiel para cumprir às promessas que
até nós mesmos já nos esquecemos.
De algum lugar entre
São Paulo - Brasil, e Luanda - Angola. A 35 mil pés, 11 mil metros de altitude,
a mais de 900 quilômetros por hora.
Já
chegamos em Luanda, todas as malas passaram pela alfandega, mesmo com muitas pastas de dente,
fio dental e escovas, mas infelizmente uma caixa de doações ficou pressa e tentaremos recuperar depois. O aeroporto, a cidade e as pessoas
estavam extremamente empoeiradas, e pelo visto isto é comum. A diferença de
cultura se percebe no primeiro passo por estas ruas, eu vi dois homens sentarem
numa barraca parecida com as de cachorro quente aqui do Brasil, barracas montadas na
rua, esses homens compraram um prato de comida e dividiram, coisa que no Brasil
pareceria um casal, mas aqui é normal, vimos isso se repetir algumas vezes
naquela barraca, e isso me fez ver o valor da comida para eles. Existem muitas
mulheres trabalhamos no que chamamos de camelô de rua, elas vendem
refrigerante, mais conhecido por aqui como 'gasolina', vendem roupas, sabonete, pasta de
dentes, coisas deste tipo, e alguns homens também trabalham assim.
Estamos
num micro ônibus com muito pouco espaço (foto) e viajaremos por, em média, 14 horas, e
estamos bastante exaustos, mas o caminho, que já se banha na noite, nos mostra
um cenário que vai alimentando a ansiedade de chegar na aldeia. Estou na
companhia de pessoas muito bem humoradas, por enquanto (risos e fé). Todos dizemos que não
acreditamos estar do outro lado do oceano. Às coisas por aqui são sujas, mas
sabemos que na aldeia encontraremos uma realidade muito mais intensa.
De algum
lugar entre Luanda e Bié, Angola. A mais de 6.500km de casa, do outro lado do
oceano, num pequeno micro ônibus, numa longa viagem. Rumo à
Aldeia Nissi.
Já
chegamos na aldeia, aqui a realidade é extremamente diferente e minha alma busca
entender no Espírito a forma de dar o meu melhor, de cumprir a minha missão
aqui. Ao chegar, pela madrugada, jantamos e arrumados nossas coisas, estamos
cansados, mas é difícil não querer ter contato com tantas novidades. Às
crianças estão muito agitadas com os eletrônicos.
Assim que
chegamos montamos as barracas e nos instalamos no clima frio da noite,
madrugada e manhã, e no clima quente no restante do dia. Às crianças se
apresentaram no começo da manhã, cantaram músicas em umbundu e em português.
Cantaram: KAKULI WALISOKA LA YESU (NINGUÉM É IGUAL A JESUS). Eu chorei muito ao
ouvir a adoração alegre de crianças sujas, sem projetos para o futuro, com pó
no pé e um destino incerto. Chorei porque percebi a pobreza da minha alma 'gospel'. Fui tremendamente ministrado. Estava na agitação dos requisitos pré
viagem nessas últimas semanas e realmente não tive tempo de ficar ansioso, ao
chegar em Luanda me pareceu estar na versão suja, mas agitada, de São Paulo, com
direito a jornal no lugar do papel higiênico no banheiro do aeroporto, mas com um KFC de
três andares na avenida ao lado, com tudo muito caro; ao chegar em Bié, mais
exatamente no Kuito, na aldeia, me pareceu ter chegado ao sítio do meu avó em
Sete barras, SP, talvez por termos chegado durante a madrugada, mas ao
amanhecer, ao ver as crianças, ao ouvir aquele canto de adoração com ritmo e
alegria de celebração eu percebi que havia chegado na África, percebi que meu
chão era Angola e que chegou o momento de dar do que tenho recebido do Senhor,
o AMOR, amor que quebra cadeias, que rompe o silêncio, que destrói mentiras e institui
o Reino.
Pude
abraçar algumas crianças, conhecer a cidade, o comércio desorganizado e sujo,
os lugares com chocolates importados e feijão super caro, sem falar no banho de
caneca, que foi num momento bastante frio. Sobretudo, aqui é incrível, não vi um
angolano chorar, não vi uma criança reclamar de nada, a igreja brasileira
precisa conhecer esta realidade, esta cultura, no Brasil temos mais do que
precisamos, temos muita qualidade nos produtos que compramos, temos muito apoio
e amor; no Brasil temos muitos abraços e muitas lágrimas, aqui temos muitos
sorrisos em meio a pouco apoio. Precisamos aprender mais.
Da Aldeia
Nissi, Kuito, Bié, Angola, África. Na escola de Deus!
Não tive
tempo de vir escrever aqui nos últimos dias, mas entre tantas novidades ontem fomos no culto
aqui no Kuito, foi um culto tremendo demais, também tentei ajudar os dentistas, mas minha agonia com os procedimentos me fez ter que ir ajudar na cozinha
e atender as crianças com um momento de conversa e oração particular. Aqui são muitas
novidades, muita coisa diferente, um povo forte, um povo adorador, as vezes
muito místico, as vezes tão inocentes, eu amei esta terra, moraria aqui se este
fosse meu chamado, ou se um dia for, eu vou gostar.
Uma moça
pegou febre tifóide, outras passaram mal, talvez pela alimentação ou água, mas
no geral a equipe está muito unida, os dentistas estão atendendo e hoje eu fiz
palestra para às crianças aprenderem a usar a escova e o fio dental (foto).
Montar um
diário de bordo numa missão como esta é complicado, são muitas coisas para
conseguir expressar, ao mesmo tempo que são intensas demais para viver. Minha
dica é que se Deus te chamar, faça o que for preciso, mas atenda o chamado,
porque para onde Deus te enviar, com certeza será uma imensa experiência e o
Reino será instituído com poder!
Da Aldeia
Nissi, em Angola!
Hoje se
passou um dos momentos mais intensos para mim, um homem que trabalha cuidando
do gerador aqui na escola se aproximou de mim com muito carrinho e cuidado, já
se desculpando ele disse um 'oi' murchinho e perguntou se eu estava bem, depois de eu
responder ele perguntou se eu tinha apenas uma bíblia ou se eu tinha mais alguma,
olhei para bíblia na minha mão e disse que no último dia antes de ir embora eu a daria para ele, ele sorriu e agradeceu, eu sai e as lágrimas me
tomaram, eu percebi que o valor que dava para bíblia era vergonhoso diante
daquela cena. Quebrado eu coloquei meu coração nas mãos de Deus e não pude me
conter, tive que me lançar neste chão seco, mas que literalmente é uma terra de
sedentos.
Entre
muitos outros, um momento me marcou intensamente, enquanto eu ministrava para as crianças
maiores de 10 anos eu contei que não era rico, como muitas delas pensavam, e que foi
Deus quem proveu tudo para eu estar ali, mas depois de alguns dias uma destas
crianças veio até mim e falou: 'você não é pobre, pobre não tem sapato, pobre
não tem cama, não tem mala, não tem roupa limpa, cobertor, você não é pobre'. Me
quebrou por inteiro e percebi minha riqueza no paralelo da minha pouca gratidão. O nada
revela o contrastante valor do pouco.
Entre o
pouco e o nada, aqui, em Angola, um espelho.
Nossa, to sem palavras... Maikel que Deus continue fazendo esta obra na sua vida e que atraves de voce nos podemos conhecer um pouco de como é outras culturas, que atraves de tudo que voce viveu Deus nos mostre como somos abençoado e as vezes ingrato, eu lendo estas palavras ja vinha em mente as cenas ... sei que o que eu imaginei nunca vai chegar ao que realmente é .. e o emocionante que foi pra voce.
ResponderExcluirEu te admiro muito.. seu caracter sua fidelidade e sinceridade, eu como sua irmão só tenho que agradecer por Deus ter te colocado em nossas vidas somos pessoas abençoadas por ter voce por perto te amo demais.. (Natalia).
Sem palavras para expressar o que senti enquanto lia o relato da tua viagem, só fez despertar em mim a vontade de logo logo pode vivenciar e dar aqui que o Senhor me dá todos os dias. Já estou me organizando e muito embreve estarei indo pra Kuito-Bié. Deus continue te abençoando muito (Ilda Lourenço - Maceió-AL)
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